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01 giugno, 2006

o estranho

auto-retrato - xilogravura

“O estranho é aquela categoria do assustador que remete ao que é conhecido, de velho, e há muito familiar.” (Sigmund Freud)

A máxima da expressão de uma vida para além da morte através do retrato expressa a esperança mágica sobre o tempo. Toda semelhança é uma espécie de signo de igualdade e os retratos gozam de uma especial importância na identificação de uma pessoa e são resultado de uma percepção determinada pela emoção.

O retrato é uma construção estética com um objetivo psicologizante, uma imagem que não passa de um duplo, um reflexo, que é na verdade uma ausência. A característica essencial da imagem é uma certa forma do objeto estar ausente na sua própria presença. E obviamente o recíproco: estar presente na própria ausência. A imagem seria, portanto, uma presença-ausência.

O duplo é uma imagem fundamental do homem, e concentra em si o anseio da imortalidade. O duplo é a imagem reconhecida no reflexo ou na sombra, na alucinação, e nas representações pintadas e/ou esculpidas; é a defesa do narcisismo primário contra a extinção, é uma segurança contra a destruição do ego, uma negação da morte. A invenção da alma imortal (que assegura a continuidade do Eu para além do corpo) é a primeira invenção do duplo, que pode suportar o peso da nossa angústia da morte, já que a contemplação da imagem de si é indissociável do pavor persecutório de ser confrontado com o envelhecimento. O culto do duplo permite uma divisão do sujeito que o subtrai à angústia de morte associada ao narcisismo.

O estranhamento do duplo vem do fato da sua criação ser datada de um estágio mental primitivo, estágio em que não se distingue nitidamente o Eu do mundo externo. Por isso a sensação estranha evoca o desamparo experimentado em estados oníricos (resíduos da atividade mental animista e onipotente). Com a superação do narcisismo primário, o duplo inverte sua função, o que era uma garantia de imortalidade, agora aparece como um estranho anunciador da morte.

A duplicação de si surge como suporte da exposição de um Eu fragmentado, esvaziado, morto pela própria agressividade. Novos caminhos da polimorfia da destrutividade interna encenam os medos modernos de descontrole existencial e de envelhecimento. O cenário artístico permite um descentramento de si, um movimento para fora procurando resolver uma divisão interna.

1 commento:

Unknown ha detto...

very neat style!! love it!